EMPREENDEDORES DOS ESPAÇOS PÚBLICOS: ESTRATÉGIAS DE USO, MERCADORIZAÇÃO E CONSUMO EM FEIRAS GASTRONÔMICAS E CULTURAIS NA CIDADE DE SALVADOR
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- SciELO Preprints
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- 10.1590/scielopreprints.9975
Este artigo analisa as formas de apropriação dos espaços públicos de Salvador a partir das feiras gastronômicas e culturais, “A Feira da Cidade” e “Salvador Boa Praça”. Considerando que elas atraem um considerável público e se apropriam das praças, parques e largos da cidade, engendrando um processo de mercantilização que utiliza, especialmente, as táticas (De Certeau, 1988) e sentidos da “economia criativa” e do empreendedorismo, buscou-se compreender a possibilidade dessas ações estarem estabelecendo uma racionalidade neoliberal sobre os espaços públicos, reconfigurando as relações sociais e intersubjetividades (Dardot; Laval, 2016). Para isso, executou-se pesquisas bibliográficas – com a construção de modelo de análise –, observações diretas e participantes, geração de dados em meios digitais com auxílio de técnicas de WebScraping (Fernandes, 2017) e, por fim, a análise qualitativa com o software Atlas.ti. Os resultados indicam que essa racionalidade permeia não apenas mercados e empresas, mas também as práticas individuais e os usos urbanos. Observa-se uma predominância desses eventos em bairros de classe média/alta, com curadorias que alinham produtos e atrações aos consumidores “desejados”, funcionando também como incubadoras de novos empreendimentos. De maneira que as feiras transformam os espaços em lócus de empreendedorismo e mercantilização, reconstruindo interações sociais e convertendo cidadãos em consumidores e empreendedores. As empresas, por seu turno, veem um potencial econômico, aderindo à lógica proposta. No entanto, as práticas empreendidas tendem a excluir a heterogeneidade do público e são marcadas pela mercadorização da cidade, refletindo uma lógica neoliberal que influencia a organização social e econômica do meio urbano.